Eu tenho uma certeza estranha, às vezes. Aquela incomum mania de
gostar de alguém pelo seu gosto musical, seus valores iguais aos meus, sua
forma de rir e agir, o jeito de andar e vestir. A estranha mania de ter
certeza que aquela pessoa se encaixa e me faria feliz.
Eu também baseio todos os meus encantos nessa certeza: de que minha
música preferida é uma das dele, que minha obsessão por filmes de herói é
também a dele e que o meu senso de humor é tão negro quanto o dele. E quando
tudo isso bate, eu tenho certeza: vou cair.
E não é tão fácil assim! Sou carente de nascença e talvez, ainda, não
aprendi essa coisa de autocurtição, por isso estou a procura de algo que me
abale, tire dos eixos, que me deixe tresloucada em sã consciência. Uma droga reinventada década
por década: o amor.
Mas tal como aparece na vida de alguns, eu me interesso por quase
nenhum. Posso gostar, curtir, pegar, fazer de amigo e me afastar, mas pra mim é
difícil essa entrega. Por medos e preceitos, eu me rogo como difícil de amar.
Não de ficar, porque, que fique claro, eu estou viva e gosto de cafuné e
amassos como qualquer um. O caso é: não gosto de ninguém assim intensamente,
enjoo fácil e não me importo com os meus amigos dizendo “tente!”.
Porém, todavia, contudo, quando acredito que alguém me interessa...
AH, como é agridoce o querer. Porque aí eu imagino futuro, casa e bem casada,
com filhos e bisnetos pra contar a história. E como eu disse, acredito que
acreditar que tudo combina vai nos levar além.
Mas a vida me ensinou que não é assim. Que gosto, discos na estante,
livros de cabeceiras e risos compartilhados não faz de você a pessoa a ser
amada pelo outro.
Ele pode te fazer sentir especial quando canta sua música preferida em
seu ouvido, te fazer sentir aquecida quando te beija na boca, te fazer sentir
única quando fala que você é a coisa mais linda que ele viu essa noite. Ele
pode te fazer sentir, mas isso não significa que sente o mesmo.
Então, eu to tentando aprender a me desapaixonar pelos conceitos
perfeitos cheios de defeito - que pra mim faz sentido, to tentando me desiludir
das alusões constantes de indiretas sem chances, dos sinais errantes e dos
solstícios que é ter a dúvida se ele gosta ou não gosta.
Se gostasse, ele corria, desviava e criava asas pra cair comigo. Quem dera.
To tentando, mas ainda to voando sozinha.